Tudo que você queria saber sobre o futuro do home office, mas nunca teve um futurista para perguntar.


Como futurista, eu dedico a maior parte do meu tempo a explorar, mapear e decodificar os cenários futuros para ajudar pessoas e organizações a se preparar para o que vem pela frente. Hoje em dia uma das perguntas mais frequentes com que me deparo é a seguinte: o que vai acontecer com o home office depois do momento que estamos passando?


A questão que deveria ser feita não é se o home office vai continuar, mas quanto do nosso modelo de trabalho tradicional, fixo, vai sobreviver no futuro que está sendo construído.

O home office já existia muito antes da pandemia e era vendido quase como um bônus para os colaboradores. Imagine só: ter a opção de trabalhar tranquilamente de casa ocasionalmente – talvez até uma vez por semana! Mas aí veio a COVID-19 e transformou, do dia para a noite, ao que era aspiração na realidade cotidiana de uma boa parte dos trabalhadores brasileiros. 


Ao invés de opção, a adoção do home office se tornou uma questão de sobrevivência para as empresas ameaçadas pela paralização causada pelas regras de isolamento social, quarentenas e lockdowns.


Adotado às pressas, de forma quase desesperada, sem planejamento ou estruturação, para muitos ele se tornou a única forma de gerar valor e colaborar.


Passado o susto inicial, pouco a pouco o trabalho remoto foi se transformando em parte do cotidiano de uma boa parte da nossa força de trabalho. Mais do que uma oportunidade de sobreviver, algumas empresas experimentaram um ganho de produtividade e eficiência no período.


Mas agora que os estados e municípios começam gradualmente a diminuir suas restrições, o que esperar do futuro do home office? Será que ele tem prazo de validade? 

As respostas são variadas.

Uma pesquisa Fortune 500 com líderes das principais companhias do mundo perguntou qual era sua previsão para a volta de 90% da força de trabalho:

  1. 38,1% dos CEOs disseram Junho de 2021
  2. 27,4% dos CEOs disseram Setembro de 2020
  3. 26,2% dos CEOs disseram que vão fazer do home office algo permanente

Ou seja, para uma boa parte das grandes empresas que movem a economia global, o trabalho remoto chegou para ficar a curto, médio e longo prazo. 

Prós e contras


Quais são as principais razões para as empresas colocarem o trabalho remoto como parte integrante da sua estruturação futura?


Aqui estão algumas delas.


Eficiência - Pesquisas mostraram que colaboradores que operam a partir de home office são mais focados nas entregas e trabalham, em média, 1,4 dias a mais por mês do que seus pares que trabalham em escritórios, o que significa quase 3 semanas de trabalho a mais por ano. Isso tem um impacto profundo no desempenho das empresas.


Economia - A adoção do trabalho remoto cria a possibilidade da utilização de espaços de trabalho menores e eficientes com diferentes equipes utilizando-os de forma rotativa e, ainda, redução de custos de manutenção e de pessoal.


Engajamento - Entender e endereçar as necessidades dos colaboradores se torna mais importante para garantir seu envolvimento e aumentar sua produtividade. Para as gerações que estão tomando conta da nossa força de trabalho, os millennials e a geração Z, a preocupação com a qualidade de vida se tornou fundamental para sua satisfação e engajamento.


E existem razões fortes para pensar assim: em pesquisas recentes, 69% dos millennials afirmaram que optariam por horários flexíveis e trabalho remoto ao invés de outros benefícios.


Acesso a talentos - Ao adotar modelos de colaboração remota, é possível ter acesso a uma gama de talentos muito maior, com um custo mais baixo. Uma companhia de Porto Alegre, por exemplo, poderia contratar um colaborador baseado em Teresina e outro na Lituânia, sem que eles tenham que sair das suas cidades.


Proteção da Equipe - Como a duração e o alcance da pandemia não estão determinados, torna-se necessário criar garantias de segurança para os colaboradores que frequentam as instalações das empresas, aumentando a distância entre suas estações de trabalho e reduzindo o número de funcionários que vão até os escritórios a cada dia, criando-se um sistema de escala.


Flexibilidade - Numa realidade em que enfrentamos constantes incertezas, a manutenção de desenvolvimentos de operações que possam continuar de forma parcial ou completa mesmo que regras rígidas de isolamento social sejam implementadas.


Mas nem tudo é positivo na adoção maciça do trabalho remoto. Alguns exemplos dos desafios que os gestores encontram:

  • A falta de preparação e de condições adequadas na casa dos colaboradores podem levar a estresse e baixa produtividade. 

  • O uso prolongado das ferramentas de teleconferência provoca um alto nível de desgaste físico, mental e emocional.

  • Os colaboradores com dificuldade em separar a vida pessoal da profissional e encontrar um equilíbrio, experimentando um grande desgaste. 

  • As ferramentas de colaboração remotas, apesar de entregar muito valor, ainda estão longe de entregar experiências totalmente satisfatórias.

  • É mais difícil criar um senso de pertencimento dos membros da equipe e por consequência a capacidade de se conectar com os valores da organização e de criar uma comunidade.

  • A falta de preparo dos gestores e sua tentativa de reproduzir no home os modelos de trabalho presenciais traz uma grande ineficiência e deixa-se de aproveitar o imenso potencial transformativo do trabalho remoto: dar mais independência e poder para os colaboradores gerarem valor para sua companhia.

Além disso, observou-se que para a solução de problemas, criatividade e inovação, equipes que trabalham juntas tendem a ser mais rápidas e eficientes.


Por isso, construir o futuro do trabalho não é uma missão simples. Não existe uma resposta fácil ou única. É preciso ter uma visão abrangente, holística, que enderece todas as oportunidades e desafios que cada companhia enfrenta.


Como faremos isso?


Construindo o mundo além do home office


O fato de que o home office é ferramenta de colaboração fundamental nas operações das organizações do presente e do futuro, não acontece por acaso. Ele demanda um envolvimento profundo e muito trabalho de todos os envolvidos.


O futuro emergente precisa de uma nova figura: a do CWEO, o Chief Work Experience Officer, o executivo responsável por analisar todos os aspectos que definem as condições de trabalho para ajudar a desenvolver as melhores práticas para elevar a capacidade produtiva, a colaboração e a qualidade de vida dos seus colaboradores em qualquer ambiente de trabalho em que se encontrem e preparar os gestores para se reinventarem e liderarem suas equipes neste mundo novo em que operamos.


E ele vai ser muito necessário porque você pode não ter percebido, mas segundo uma pesquisa da McKinsey, em 2022, 42,5% da força de trabalho global será móvel – e essas eram estimativas que foram feitas antes da pandemia.


É um movimento que já está acontecendo – e não tem volta.


Os futuros possíveis.


O futuro, apesar do que tarólogos, jogadores de búzios e alguns consultores gostam de dizer, não é algo homogêneo. Ele se manifesta de forma diferente para pessoas, organizações, países, etc. E é limitado pelas nossas ambições, recursos disponíveis, habilidades e visão de mundo.


Para alguns o futuro inclui escritórios virtuais, veículos autônomos, entregas por drones e inteligências artificiais automatizando uma boa parte dos empregos.


Para outros ele pode ser simplesmente ter um computador conectado à internet que funcione.


Não existe uma fórmula. 


Cada organização deve mapear seus desafios e seus objetivos e desenhar uma solução que a prepare para ser dinâmica e flexível para enfrentar um futuro complexo e incerto. É uma missão ambiciosa que envolve encontrar a mistura perfeita que harmonize a cultura corporativa, ambições, os desafios, os recursos disponíveis e o cenário em ela se enquadra.

Adeus home office. Seja bem-vindo Anywhere Office.


Neste novo mundo que surge, o trabalho remoto deixa de ser uma tábua de salvação e passa a ser uma ferramenta fundamental na construção das jornadas das organizações que vão sobreviver – e prosperar – nestes tempos incertos em que navegamos.


É um futuro onde o trabalho deixará de ser limitado aos escritórios e acontecerá nas nossas casas, nos coworkings, em cafés, em um chalé de uma pousada de frente para o mar, em qualquer lugar. Um futuro que alia colaboração, qualidade de vida, aumento de produtividade, eficiência e flexibilidade.


É o futuro do Anywhere Office. Onde a nossa capacidade de gerar valor não está mais presa a um lugar físico.


Está dentro de cada um de nós.

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