Porque os caminhões de entrega da UPS nunca viram à esquerda. E o que isso tem a ver com o seu futuro.


Quando comecei a me dedicar aos estudos do futuro, descobri que um dos temas que me fascinava era a eficiência. 

Novas tecnologias, novas formas de usar tecnologias existentes, novas formas de gestão, mudanças organizacionais, mudanças comportamentais, mudanças operacionais: esses elementos separados ou combinados têm o potencial de fazer com que sejamos cada vez mais eficientes.

E tem uma razão para isso: a busca pela eficiência – fazer cada vez mais com menos – é mais do que uma aspiração e uma ambição. Ela é uma das necessidades fundamentais do nosso momento presente e na construção do nosso futuro. Nós precisamos, nossas organizações precisam, a nossa sociedade também. Mais do que tudo, o nosso planeta precisa hoje. E vai precisar muito mais no futuro.


Evitando curvas para a esquerda.


Foi durante a preparação para uma apresentação que me deparei com uma informação surpreendente, que acabou influenciando profundamente o que eu pensava sobre o assunto: os caminhões da UPS – a maior empresa de entrega de pacotes do mundo – (quase) nunca fazem curvas para a esquerda.

Pode parecer (muito) estranho, mas me deixe explicar o porquê.

A história é a seguinte: desde os anos 70, a UPS chegou à conclusão de que, evitando que seus caminhões de entregas fizessem curvas à esquerda, o processo de entrega de pacotes se tornava mais rápido, eficiente e seguro.

Em 2008, depois de mais de 10 anos de desenvolvimento, eles lançaram um software de desenho de rotas de entrega de pacotes chamado Orion, que otimizava este processo e colocava o gerenciamento do processo no mundo digital.

Assim, as rotas dos caminhões da UPS passaram a ser desenhadas de modo que apenas 10% das curvas sejam feitas para a esquerda.

E qual é o resultado dessa decisão aparentemente contraintuitiva?

De acordo com a UPS, a abordagem ajuda a companhia a diminuir a distância rodada pelos seus veículos de entrega, só nos Estados Unidos, em quase 300 milhões de quilômetros. Essa decisão proporcionou uma economia de mais de 35 milhões de litros de combustível, diminuindo a quantidade de gás carbônico emitido em 100 mil toneladas – e isso fazendo 350 mil entregas a mais anualmente. Mais do que isso, eles conseguiram esse resultado reduzindo a sua frota em 1.100 caminhões!

Os dados mostraram que privilegiar curvas para a direita era, também, muito mais seguro: segundo a US National Highway Traffic Safety Association, fazer curvas à esquerda em um cruzamento ou uma intersecção é uma das ações críticas dos chamados “eventos pré-acidentes”, que acontecem exatamente antes de uma colisão inevitável. Segundo os dados, elas são responsáveis por 22,2% dos acidentes, contra apenas 1,2% das ações envolvendo curvas à direita.

Esse processo é hoje aplicado na maior parte dos países onde a empresa tem operações. (É claro que nos países de “mão inglesa”, como no Reino Unido e na Austrália, os caminhões evitam fazer curvas para a direita.)

Contraintuitivo. Seguro. Eficiente.


A era da Ultra Eficiência


O fato é que, na busca incessante pela eficiência que faz parte da nossa construção, a vida está cheia de oportunidades de analisar a nossa realidade, entendê-la e encontrar formas de reinventá-la. Isso pode acontecer por meio do uso de novas tecnologias, de mudanças operacionais e, principalmente, de mudanças de comportamento.

A associação entre a criatividade humana e agentes tecnológicos cada vez mais poderosos, como o encontro da inteligência artificial com o big data, cria oportunidades extraordinárias de lançar um olhar profundo, original e transformador para todas as áreas da atividade humana – desde as menores ações e os detalhes mais específicos até os grandes movimentos das nossas organizações e da sociedade – e transformá-las no processo. 

Esse é o início de uma era de mudanças aceleradas, disruptivas, exponenciais e de possibilidades praticamente ilimitadas de otimização da nossa existência.

Bem-vindos à era da Ultra Eficiência.


Aonde isso vai me levar?


Mudar não é fácil, ainda mais quando essas mudanças vão contra o lugar-comum, desafiam as convenções e são contraintuitivas, mas é necessário. Mais do que necessário: em um mundo em que os nossos recursos são cada vez mais escassos, mudar é uma questão de sobrevivência.

Por isso, nessa busca constante e fundamental pela reinvenção e pela eficiência, vale a pena parar e se perguntar: onde estão as minhas curvas à esquerda?

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