Eu, empreendedor.

Por que virei empreendedor?

Algumas pessoas já nascem com o espírito de empreender. Preparam limonada para vender na frente de casa quanto tem 6 anos de idade. Pegam o dinheiro da mesada e compram borrachas perfumadas e vendem com lucro para as amiguinhas de escola com lucro. Fazem camisetas com estampas de silk screen e fazem dinheiro vendendo para amigos de faculdade. Abrem pet shops, docerias, lavanderias, criam grifes de roupas, escritórios contabilidade e muitas outras coisas.

Ou seja, para ser empreendedor você precisa ter vontade e fazer as coisas acontecerem desde o começo. Não pode ter medo de arriscar e, mais do que tudo, precisa acreditar que tudo vai dar certo.

No fundo todo empreendedor tem que ser um otimista, tem que ter um lado Poliana.

Hoje em dia a palavra empreendedorismo está muito associada o mundo das startups: inovação, novas tecnologias, revoluções digitais e unicórnios. (Não aqueles cavalinhos míticos com um chifre que as meninas adoram, mas as companhias novas que valem mais do que um bilhão de dólares - e que os investidores gostam ainda mais). Ser empreendedor agora é fundar uma startup e tentar sacudir as fundações de um mercado específico, trazendo o celebrado "crescimento exponencial" para as suas planilhas de Excel. Pode ser um app, um negócio digital, um serviço para a economia colaborativa, uma nova invenção da área de biotecnologia que vai sacudir a forma que o agronegócio combate pragas na lavoura e por aí vai...

Qualquer que seja a definição de ser empreendedor, ela envolve ter uma ideia e transformá-la em realidade, em um negócio seu.

E por que eu, depois de mais de vinte anos trabalhando como empregado, decidi me aventurar nesta vida incerta de quem está começando algo do zero?

Há uns meses atrás eu fui dar uma palestra numa faculdade no Brasil. Logo que terminei um outro palestrante começou a falar. Era um publicitário, como eu, mas o tema da palestra dele não era publicidade. Durante uns 45 minutos, ele falou sobre uma série de intervenções que criou. Elas testavam os limites da capacidade humana de interagir entre si usando novas tecnologias, desconstrói paradigmas e questiona a maneira com que nos relacionamos. Era uma série de "stunts" ou ações quase artísticas, performáticas que faziam as pessoas se questionarem sobre a natureza de nossas interações. Brilhante.

Mas o momento mais importante da sua apresentação aconteceu por acidente. Ao descrever o impacto que uma das suas performances criou, o palestrante mostrou um artigo publicado em um grande portal brasileiro de notícias. Por coincidência, ele nos disse, na página em que estava a notícia sobre seu projeto também havia um anúncio que ele tinha criado na agência de propaganda em que trabalhava. Sim, ele tem um emprego, vai para escritório, tem uma mesa, um computador, tem que preencher timesheets e relatórios –  e recebe 13o. salário. Neste momento eu percebi que todas aquelas coisas extraordinárias que ele tinha mostrado até aquele momento eram só uma parte da vida dele - e não era a parte que pagava as contas. A parte que pagava apareceu como uma convidada inesperada, num canto de uma página da internet. Era esquecível, óbvia, mundana - mais ou menos como 99,9% das propagandas que se vê no nosso dia-a-dia.

Ou seja, esse sujeito brilhante, cheio de idéias fantásticas, passava a maior parte do seu tempo produzindo coisas quase sempre desinteressantes para os clientes da agência.

A minha sensação era de que quando você trabalha para uma organização, trabalha para realizar os sonhos e as visões de outros. E que quando você trabalha para uma grande companhia ou corporação essas "pessoas" são cada vez mais abstratas, imateriais – a soma total de decisões corporativas de inúmeras camadas hierárquicas e necessidades dos acionistas. Um lugar onde o sonho e a visão definidos se perderam há muito tempo, substituídos por planos estratégicos, discutidos, negociados, modificados e decididos em reuniões de conselho, que mudam a cada dois anos – ou quando os acionistas acharem que é necessário.

Depois de refletir muito sobre isso, cheguei à conclusão de que, se é a para viver para trazer sonhos para a realidade, que sejam o meus.

Foi por isso decidi há um tempo atrás que precisava produzir algo que fosse maior do que as laterais do cubículo em que trabalhamos, algo que trouxesse um impacto real e duradouro para as pessoas. Algo que representasse essa vontade de fazer uma diferença que existe na minha mente e se transformasse em uma coisa palpável, com vida própria.

Um produto. Um serviço financeiro baseado em uma solução tecnológica.

De repente me descobri empreendedor – ou será que essa vontade sempre esteve lá, esperando ser revelada? Começou com um monte de idéias rabiscadas em um papel. Uma conversa, seguida de muitas outras, e tomou conta de minha vida.

Foi assim que começou minha startup.

Aonde essa jornada vai me levar? Impossível saber, mas posso garantir que a viagem tem sido tão interessante quanto o destino que imaginei no começo.

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