A síndrome de Mosby

O Primeiro e Único Ted Mosby, figura central na série HIMYM

Outro dia eu estava assistindo de novo um episódio de How I Met Your Mother. Para quem não conhece - ou não lembra - a série gira em torno da história de como o narrador, o arquiteto Ted Mosby, encontrou a mãe dos seus filhos. Os episódios contam histórias sobre seus relacionamentos, sobre seus amigos e das suas aventuras pessoais e profissionais.

Eis que chega um ponto na série que Ted, que é um arquiteto, sai da empresa em que trabalhava e decide abrir o próprio escritório de arquitetura: a Mosbius Designs.

Como toda boa comédia, não existe uma boa risada se não existir uma dor associada a ela – isso é tão verdadeiro que um sábio disse uma vez que humor é sofrimento mais timing.

No caso de Ted o problema – ou a dor –  é que ele faz tudo menos o que é realmente necessário para que sua empresa dê certo. Ele passa horas escolhendo o material de escritório ideal para a Mosbius Designs - dedicando um tempo especialmente longo para escolher quais seriam os lápis perfeitos, sai para longas caminhadas para observar a arquitetura de Nova York para se conectar com os edifícios e buscar inspiração, e por aí vai.

Ele faz tudo, menos uma coisa: tomar as ações necessárias para transformar a sua idéia em algo real. No caso dele é ligar para para clientes, criar oportunidades de negócios e, no fim, desenhar prédios, casas e afins.

Simples assim.

Essa é uma armadilha a qual todos estamos expostos, tanto na vida de empreendedor quanto nas nossas vidas pessoais. O maior risco que elas criam é o da ilusão de estar ocupado, consumindo seu tempo e sua energia.

O medo de falhar às vezes nos leva a encontrar – e dar importância enorme – a atividades que não são críticas, o que cria a sensação de estar ocupados demais para encarar os desafios reais do seu negócio. Esse tipo de comportamento, associado com a falta de planejamento, falta de foco e objetivos claros é um dos maiores riscos que uma startup enfrenta. E encarar essa realidade – e o risco de mortalidade da sua idéia tão adorada – é um dos maiores medos dos empreendedores encontram.

Por isso que é preciso lembrar que o objetivo crucial de uma startup é de provar que sua idéia é viável, que existe um product/market fit (isso é importante! Prometo falar sobre o assunto no futuro) e que seu modelo de negócio tem o potencial de levar você e sua equipe - junto com um bando de investidores endinheirados - à terra prometida. E a terra prometida tem um nome: crescimento sustentável.

O sucesso de uma startup não está vinculado ao seu logo, a um website caríssimo e complexo ou a um escritório com cadeiras de design Norueguês, mesa de ping-pong, 25 tipos de bebidas quentes e frias, massagistas terapêuticas de plantão, um dress code liberal, cozinhas cheias de comida saudável - e grátis, decoração ganhadora de prêmio, sala de videogames com PS4 e XBox One, galerinha com look moderno, programador barbudo que anda com bicicleta marcha fixa, assessoria de imprensa que não pára de soltar releases... Essas são coisas podem ajudar, mas não definem até onde sua idéia pode chegar.

Ou seja, tudo que você faz tem que ser focado em um pensamento muito simples: criar um produto que as pessoas queiram.

Senão, como o Ted, você corre o risco de ficar totalmente ocupado com atividades que não vão levar a sua startup para onde ela precisa ir.

Por isso faça o que for preciso para o seu negócio acontecer. Escolher a marca das canetas que vão combinar com a cor da parede do seu escritório pode ficar para depois.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Anywhere Office: o futuro da colaboração

Adeus Gordon Moore, inventor de futuros.

Porque os caminhões de entrega da UPS nunca viram à esquerda. E o que isso tem a ver com o seu futuro.