20/07/2019 - O Dia Em Que Faremos Contato

sincronicidade
sin.cro.ni.ci.da.de 
substantivo feminino 
1. Segundo a teoria de C. G. Jung, coincidência, no tempo, de um estado psíquico com dois (ou mais) eventos que, embora sem relação causal aparente, possuem uma relação de significado

Existem alguns momentos na nossa jornada pela vida surgem oportunidades que carregam em si um potencial transformador profundo. E aí temos que tomar decisões que vão ter implicações enormes na nossa vida pessoal, na nossa carreira e em todos que nos rodeiam

O problema é que, quando está acontecendo, raramente temos certeza do que estamos fazendo. Não existe uma luz verde, um sinal que brilha no céu que diz que está tudo certo, que você pode seguir em frente.

Já me deparei com situações como essa várias vezes e, mesmo depois de todas essas experiências, tomar decisões e ter certeza de que estou fazendo a coisa certa continua sendo muito difícil.

Aos 17 anos, tive decidir na época do vestibular entre as carreiras de engenharia aeroespacial, história, astronomia e publicidade. Obviamente as opções eram radicalmente diferentes e não estava muito claro para mim qual o caminho seguir.

(Spoiler: acabei decidindo por fazer publicidade e propaganda na ECA-USP)

Foi assim quando em 2005 decidi abrir mão de um projeto fantástico de uma consultoria de recursos humanos que estava decolando aqui no Brasil para me mudar, com família e tudo, para uma cidade quase desconhecida no Oriente Médio: Dubai.

A mesma coisa aconteceu quando, onze anos depois, escolhi ir contra a corrente e voltar para o Brasil para montar minha startup, quando aparentemente todos os brasileiros estavam procurando uma maneira de ir embora do país.

O que todas essas decisões tinham em comum é o fato de elas dependerem completamente das nossas informações, necessidades, vontades e feeling para serem tomadas.  E, logo depois que você decide o seu caminho, não surge nenhuma confirmação sobrenatural que indique que fez a coisa certa.

É assim que as coisas funcionam – ou pelo menos era assim que eu achava que funcionavam, até os eventos que narro neste texto.

Há alguns meses eu decidi que era a hora de fazer com que um sonho antigo que tive se tornasse realidade. Ou melhor, que se tornasse mais presente na vida.

Esse sonho era de me dedicar de corpo e alma à carreira de palestrante.

Eu sempre dei palestras, mas sempre foi algo que tinha que encaixar na minha agenda, ser acomodada no meio de um monte de outras atividades.

Já falei sobre ciência, criatividade, criação publicitária, inovação, marketing no Oriente Médio, revoluções nas redes sociais, startups, futuro do trabalho, fintechs, liderança, etc, etc, etc, mas se tivesse que definir o meu tema favorito, diria que é  o Futuro (com "F" maiúsculo mesmo). Como leitor voraz de ficção científica, sempre fui apaixonado pelas possibilidades ilimitadas da imaginação humana e como fã ardoroso de tudo que é científico, sempre fui apaixonado pelas coisas extraordinárias que a mente humana é capaz de produzir. Mais do que isso, sempre fui obcecado pelas ferramentas que nos permitem entender como essas possibilidades podem afetar a nossa realidade e como utilizá-las para nos preparar para o que vem pela frente.

Decisão tomada – obviamente associada com um frio na barriga intenso – era a hora de tomar o primeiro passo.

Como rito simbólico de passagem decidi que iria participar de um workshop espetacular de futurismo para sair (ainda mais) energizado. Depois de muita pesquisa, que passou por cursos da Singularity University, do MIT, do Institute For The Future, entre outros, acabei encontrando o mais interessante, abrangente e inspirador aqui do lado de casa!

O primeiro de vários acontecimentos surpreendentes desta história.

O meu grande achado foi a imersão em futurismo Friends of Tomorrow, da Aerolito. Com curadoria do grande futurista brasileiro Tiago Mattos, conteúdo e organização impecáveis, o FoT é uma espécie de "best of" dos conteúdos que são compartilhados nas escolas e instituições mais famosas do planeta, mas não pára aí: toda essa informação vem acompanhada um monte de ideias novas e inspiradoras que vão muito além das referências tradicionais. #OrgulhoDeSerBrasileiro

Tudo isso a um passeio de bicicleta de distância da minha casa. Realmente, o futuro estava batendo à minha porta.

Mas é aí que história começa a ficar surpreendente.

Nos dias que antecederam o início do Friends of Tomorrow tive que passar alguns dias resolvendo um grande problema do passado.

Quando fui para Dubai, estava morando em uma casa em Campinas. Como essa mudança era uma grande aventura que, na época não sabia se daria certo ou não, decidimos que só levaríamos o essencial para o Oriente Médio. O resto ficaria aqui, em dezenas caixas seladas no sótão da casa.

Mais de uma década se passou e eu estava de volta ao Brasil, com mil desafios pela frente e uma startup na cabeça. Depois de algum tempo finalmente dei uma parada para decidir o que fazer com a casa: optei pelo processo longo e tortuoso de vender um imóvel em tempos de crise.

Demorou, mas finalmente encontrei um comprador - aparentemente no momento exato para que essa história acontecesse como aconteceu.

Depois de fechado o negócio o o próximo passo seria liberar a casa para seu novo morador. E eis que o maior desafio de todos ainda estava por vir: decidir o que fazer com as caixas do sótão.

Foi uma tarefa longa e complicada, onde me vi abrindo cápsulas do tempo, com memórias de um momento congelado catorze anos no passado. À medida que ia abrindo as caixas encontrava roupas fora de moda, brinquedos, cadernos, objetos eletrônicos que mais pareciam artefatos de uma cultura esquecida, dúzias de fitas VHS (!), álbuns de fotografia, centenas de CDs que gastei mais de uma década colecionando e livros, muitos livros.

Me senti quase como um Howard Carter abrindo a tumba do faraó Tutankhamon e descobrindo riquezas sem fim, esquecidas pelo tempo.

Ao mesmo tempo pensava: como acumulamos coisas que parecem tão importantes no presente, mas que são retiradas da nossa vida não fazem falta alguma.

Uma boa parte desse material já não tinha função e seria encaminhada para a venda, doação ou, simplesmente, lixo. (O que fazer com fitas VHS??!!!)

Mas muita coisa merecia ser preservada – principalmente os livros. Olhar para os livros que tinha lido há tanto tempo foi como encontrar velhos amigos e relembrar histórias que passamos juntos. Mas, eis que no meio de todos eles encontro um que havia comprado há 30 anos e nunca tinha lido. O que é mais surpreendente é que tinha sido escrito por um dos meus escritores favoritos de ficção científica: Arthur C. Clarke. Famoso por ser o escritor do conto "The Sentinel", que inspirou o filme 2001, Uma Odisséia no Espaço, Clarke não se limitava a escrever peças de ficção. Seu talento também se aplicava em fazer previsões práticas – e acuradas – sobre o futuro das coisas.

Esse era o caso do livro em questão. Ao invés de contar histórias fantásticas de pessoas vivendo aventuras intergalácticas, ele tratava de fazer previsões sobre como seria um dia na vida das pessoas num futuro (não muito) distante.

O nome do livro? Um Dia Na Vida Do Século XXI.

O livro esquecido - e encontrado na minha pequena expedição arqueológica caseira.

Olhei para ele com curiosidade e pensei na coincidência: o único livro que eu não tinha lido que estava nas caixas era exatamente sobre o assunto ligado ao meu novo momento, e ressurgiu na hora que essa transição na minha vida estava acontecendo.

Despachei os outros livros para a casa da minha mãe – meu depósito não-oficial – e trouxe o do Arthur C. Clarke comigo, para poder ler e comparar suas previsões com o que estava acontecendo realmente no século XXI.

Isso foi no domingo à noite, dia 14 de Julho de 2019.

Segunda-Feira começava a minha imersão no Friends of Tomorrow e terminaria na sexta-feira, dia 19 de Julho de 2019. Guardem essas datas, porque elas vão ser importantes para o desfecho dessa narrativa.

O curso/workshop/imersão começou de uma forma intensa, com muita gente interessante – tanto conduzindo o conteúdo quanto na audiência – informação nova, relevante e inspiradora. Os insights se sucediam numa velocidade que nos deixava quase tontos. Eis que durante um dos módulos do dia, Tiago coloca dois vídeo dele, Arthur C. Clarke, fazendo previsões sobre o futuro no meio dos anos 60. A sua visão para o que aconteceria num futuro distante – o nosso presente! – era assustadoramente precisa.



Lembrei do livro do autor que eu tinha e que passou todos esses anos sem ter sido lido e achei a coincidência fantástica. No dia seguinte decidi levá-lo comigo para o Friends of Tomorrow e mostrar para o Tiago, já que era uma obra pouco conhecida de um autor que estava tendo tanto destaque no nossa interação.

Enquanto estávamos naquele momento social antes de começar nossa imersão, resolvi dar uma olhada na data de lançamento da obra. (Me lembrava de ter comprado no final dos anos 80 ou bem no começo dos anos 90).

Curioso para descobrir o quão distantes cronologicamente estariam as previsões de C. Clarke dos nossos dias, vou até a página de informação sobre a edição original e vejo o ano: 1986.

33 anos atrás!

Foi aí que meus olhos, movidos pela curiosidade, se moveram para o título original do livro, informação para a qual eu nunca havia me atentado. Eu não estava preparado para a surpresa que veio na sequência...

O nome do livro original não era apenas uma versão em inglês de "Um Dia Na Vida do Século XXI". Havia uma parte faltando que aparecia no título da versão em português. E esse detalhe fez toda a diferença.

O nome completo do livro era "July 20, 2019: A Day In The Life Fo The 21st Century"!

July 20, 2019!

O dia seguinte ao fim do evento que escolhi como divisor de águas para a minha jornada pessoal e profissional. O início simbólico de uma nova vida.

No creo en las brujas, pero que las hay, las hay.

Quando descobri isso fiquei sem fôlego! Tive que compartilhar com o Tiago, porque um momento único como esse não pode ficar guardado para a gente. Ele ficou encantado, impressionado com essa coincidência tão improvável. Assim com ficaram os participantes do Friends of Tomorrow quando, ao final da nossa jornada e tivemos a oportunidade de compartilhar como tinha sido a nossa experiência durante esses 5 dias intensos, inspiradores e transformadores.

Quem me conhece sabe que sou absolutamente cético, objetivo, cientificista a respeito de como a nossa realidade funciona, mas confesso que este acontecimento desafiou minha capacidade de explicação.

Era como se o universo, pela primeira vez, estivesse me mandando uma mensagem dizendo que a minha decisão fazia sentido.

Nós, como seres humanos, temos a capacidade de atribuir sentido às coisas e moldar a realidade de acordo com a nossa visão de mundo, nossos medos e desejos. Mas existem momentos em que o extraordinário acontece e as coisas se conectam de uma maneira surpreendente e inesperada – e aí fica difícil de explicar.

É a tal da sincronicidade.

Por isso é melhor relaxar e aproveitar a experiência e me preparar para a próxima parte da minha jornada

P.S.: Arthur C. Clarke não escolheu essa data por acaso. 20 de Julho de 2019 foi a data que marcou 50 anos do pouso da missão Apollo XI, que colocou o primeiro homem na Lua. Um pequeno passo para um homem, um gigantesco salto para a humanidade.






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